Por FIFA
O ano do Brasil! FOTO: Getty Images |
Quando Luiz Felipe
Scolari subiu ao palanque para dar sua primeira entrevista coletiva novamente
como técnico da Seleção Brasileira, obviamente havia uma tensão diferente no
ar. Novembro de 2012 ia chegando ao fim, e o técnico assumia um time envolto
por desconfiança. Em seu discurso, uma única certeza: “Não somos os favoritos
no momento”.
Essa frase que poderia
parecer impensável para qualquer torcedor desavisado. Afinal, ele estava se
referindo à única equipe pentacampeã no mundo, que, não obstante, estaria
jogando em casa, com promissora geração liderada por um jovem craque em
ascensão. Mas o fato é que o Brasil passava
por um período turbulento com a demissão de Mano Menezes, o homem que, dois
anos antes, havia sido eleito como o capitão de um projeto em que apenas um
desfecho só era tolerável: a taça. Algo que seu sucessor sabia – e sabe – muito
bem.
“Temos, sim, obrigação
de ganhar o título. Podemos não ser os favoritos, mas pretendemos nos tornar no
decorrer e vamos trabalhar pra isso”, foi o que também disse Felipão naquela
mesma coletiva. Muitos assumiram as declarações como mera bravata, para não
dizer devaneio de um treinador que, para os mais críticos, era julgado
ultrapassado. Suas palavras, contudo, ganhariam uma conotação
completamente diferente no dia 30 de junho, no domingo em que o Maracanã entrou
em êxtase depois de uma inesquecível exibição contra a multicampeã Espanha: 3 a
0 e a autoestima mais que resgatada.
Arrumação
Quando o treinador disse sim à CBF, praticamente a um ano e meio da Copa em
casa, era muito mais fácil buscar referências positivas sobre sua Seleção de
2002. O presente não animava. Com boa parte de seus principais jogadores em
campo, o time havia falhado mais uma vez em conquistar o ouro olímpico. Além
disso, em sua sempre concorrida turnê de amistosos, vinha penando contra as
forças mais tradicionais dos gramados.
A despeito da baixa
confiança geral, o técnico não se esquivou de enfrentar grandes times nos
primeiros jogos. Era necessário testar seus convocados. E as dificuldades
persistiram. No fim, quando o time se reuniu para a Copa das Confederações, o
retrospecto contra seus principais adversários preocupava: duas derrotas para a
Argentina, um empate e uma derrota diante da Inglaterra, além de tropeços
contra Alemanha e França.
Num plano geral,
porém, a Seleção saiu ganhando. Após seis meses, Felipão pôde visualizar
quais pontos requeriam atenção. Tudo de acordo com o plano. “Nosso objetivo é
conquistar a Copa do Mundo. Entregamos à CBF um documento com o trabalho que
imaginamos até o final do Mundial. Durante a preparação, sugerimos que
tivéssemos adversários de bom nível, para que adquiríssemos uma boa base”,
disse Scolari, em palestra neste mês, ao lado do coordenador Carlos Alberto
Parreira e do auxiliar Flavio Murtosa.
A partir da definição
de um núcleo, o próximo passo era dar identidade ao time. O talento de jovens
como Neymar e Oscar estava
disponível para a criação. Assim como, na defesa, figuras como Thiago
Silva e Dani
Alves eram rotineiramente incensadas. O desafio era juntá-los em um
coletivo funcional.
Nesse sentido, o maior
tempo de preparação foi fundamental. Antes de a Copa das Confederações começar,
já se percebia que o astral era outro. “O Felipão deu um posicionamento da
parte tática em uma palestra. Em certo momento, para sentir o grupo, perguntou
se a marcação seria à frente ou na intermediária”, relembra Parreira. “Foi
unânime: os jogadores falaram que marcariam em cima. Isso é confiança e
trabalho. Acreditaram que teríamos um bom resultado, como tivemos.”
De fato, a Seleção
sufocou seus rivais em junho primeiro pela dedicação em campo – para depois
deixar sua habilidade natural terminar o serviço. O resultado? Com
apresentações convincentes, ganhou não só o título como também o trunfo mais
importante para qualquer anfitrião: o apoio da torcida, algo de valor
imensurável.
Pode ser melhor
Vencer a Copa das Confederações obviamente não é garantia de sucesso em uma
Copa do Mundo. Campeão em 2005, o próprio Parreira serve como testemunha para
isso – assim como Dunga, vencedor em 2009. Considerando, no entanto, o cenário
de um ano atrás, os avanços foram notáveis. O treinador conseguiu virar o jogo.
“O balanço principal é
que nós conseguimos ter um sistema tático altamente definido. Conseguimos
formar um bom grupo, formar uma equipe, independentemente de quando jogam A ou
B. Conseguimos ter os resultados que eram interessantes a partir de um
determinado momento, organizando na nossa equipe tudo aquilo que a gente planejou
ano passado.”
Sobre a base, é
natural esperar que muitos dos jogadores que bateram Japão, México, Itália,
Uruguai e Espanha em sequência estejam na lista final do dia 7 de maio. Até
porque, daqui até lá, haverá apenas mais um amistoso, em março, contra a África
do Sul.
Isso não quer dizer
que a lista esteja fechada. Neste mês, por exemplo, Scolari embarcou para a
Europa para observar jogadores brasileiros em ação. Nos amistosos pós-título,
nomes como Robinho, Willian e Maxwell foram
testados e agradaram. As questões não deixam de rondar a cabeça de um
treinador. Nem que sejam agradáveis.
"São 45 nomes que
tenho pesquisado desde o início. Tenho hoje na minha lista 25. Tenho que fazer
escolhas", afirmou. "Estou plenamente satisfeito. Mas sempre pode ser
melhor. Vou ver mais jogos para ver se acrescento um ou dois. Continuamos
observando, e a chance pode aparecer. Pode ser que ainda tenha novidade.”
O contexto das últimas
entrevistas do comandante da Seleção, então, não poderia ser mais diferente do
que aquele de quando encarou em sua primeira coletiva. E ele volta a repetir:
“Algumas pessoas ficam duvidando da nossa palavra, de que vamos ser campeões.
Jogando no Brasil,
não existe pensarmos em outra hipótese. Temos que assumir essa postura”. Ao
final de 2013, a Seleção pode assumir-se entre as candidatas ao título da Copa
do Mundo da FIFA, e vai ser difícil encontrar quem ache isso absurdo.
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