O fera! FOTO: GettyImages |
Depois de algumas dificuldades
iniciais, o Chile garantiu sua classificação para a Copa do Mundo da FIFA
Brasil 2014 na última rodada das eliminatórias sul-americanas. O futebol de
alto nível, somado à sequência de bons resultados em 2013, deixou os torcedores
esperançosos de ver a Roja quem sabe repetir a histórica campanha de 1962,
quando o país sediou a competição e terminou em terceiro lugar. A seguir, o
FIFA.com analisa os cinco aspectos fundamentais que permitiram aos chilenos
confirmar presença em seu nono Mundial.
O
trabalho de Sampaoli
Em dezembro de 2012, dez rodadas das
eliminatórias sul-americanas já tinham sido disputadas e o Chile estava fora da
zona de classificação, em sexto lugar pela diferença no saldo de gols em
relação à Venezuela. A seleção então treinada por Claudio Borghi não tinha
padrão de jogo e pecava pela irregularidade: havia vencido quatro jogos e
perdido seis. Foi então que os dirigentes resolveram apostar em Jorge Sampaoli,
discípulo da maior referência do torcedor chileno, Marcelo Bielsa, que havia
classificado a Roja para a África do Sul 2010.
Comandante Sampaoli |
Argentino como El Loco, o técnico de 53
anos, vencedor de quatro campeonatos nacionais e um internacional com a
Universidad de Chile, chegou impondo sua filosofia de jogo: aproveitamento dos
laterais, marcação por pressão desde o ataque e dinamismo constante. Conversou
com os principais nomes da seleção, buscou tranquilidade e comprometimento
junto aos jogadores mais criticados na época e convenceu seus comandados a
retomarem as raízes do sucesso que levou o Chile a terminar em segundo lugar
nas eliminatórias anteriores.
Sampaoli perdeu na estreia diante do
Peru fora de casa, a quarta derrota seguida dos chilenos na competição, mas a
partir de então sua seleção não parou mais de evoluir, tanto em campo como na
tabela. Após a partida em Lima, o Chile registrou a maior série de vitórias de
sua história no torneio classificatório. Foram quatro triunfos consecutivos,
três deles como anfitrião. Nem na era Bielsa o país havia protagonizado uma
sequência tão positiva.
O
amadurecimento da geração dourada
Depois da brilhante classificação para
a África do Sul 2010, esperava-se muito da nova e promissora geração de
jogadores chilenos, formada por Claudio Bravo, Arturo Vidal, Mauricio Isla,
Alexis Sánchez, Gary Medel, Gonzalo Jara, Carlos Carmona, entre outros. Todos
eles tinham juventude e talento suficiente para continuar crescendo e alçar o
país à condição de potência continental.
Quando as eliminatórias começaram,
porém, vários deles atuaram muito abaixo das expectativas e alguns estavam até
mais envolvidos em polêmicas do que com os verdadeiros objetivos da seleção.
Coube a Sampaoli domesticar temperamentos e construir um espírito de união.
"O futebol pode lhe proporcionar
muita coisa, mas nem todos conseguem lidar bem com isso", disse Vidal em
entrevista ao FIFA.com em 2012. "Você tem que amadurecer como pessoa e,
dependendo da função que exerce, às vezes é obrigado a dar o exemplo. Não é uma
tarefa fácil, porque às vezes se exigem certas coisas que só são adquiridas com
o tempo." O tempo passou e os principais nomes da seleção, que em muitos
casos haviam conquistado a terceira colocação na Copa do Mundo Sub-20 da FIFA
Canadá 2007, encontraram o equilíbrio dentro e fora de campo para melhor
explorarem todo o seu talento.
A
volta por cima dos astros
Do amadurecimento, veio o sucesso.
Graças ao crescimento dos jogadores em seus respectivos clubes e ao trabalho da
comissão técnica, a seleção chilena pôde tirar máximo proveito dos seus astros
nos momentos decisivos. Os números de Arturo Vidal e Alexis Sánchez ilustram
bem essa evolução. Enquanto o primeiro marcou quatro gols nos últimos cinco
jogos, o segundo fez quatro nas quatro partidas finais.
Flutuando entre esse ponto e o
anterior, está o retorno de Jorge Valdivia, o maestro do meio de campo, após
quase dois anos de suspensão. O camisa 10 acrescentou inteligência e passes em
profundidade a uma seleção vertical por excelência.
Duas
cartas na manga
Quando o comando de uma equipe sofre
mudanças, jogadores de confiança do novo treinador acabam naturalmente adquirindo
certo protagonismo. Na seleção do Chile, foi exatamente o que aconteceu com
Eduardo Vargas e Marcelo Díaz.
El Mago Valdívia, o craque FOTO: Reuters |
Sampaoli impulsionou a carreira de
Vargas durante sua passagem pela Universidad de Chile ao deslocar o meia para
atuar como segundo atacante pela direita. Na seleção, a mão do argentino foi
decisiva para fazer de Vargas o artilheiro da Roja nas eliminatórias.
O jogador de 23 anos teve um 2013
extraordinário com o uniforme nacional. Autor de quatro gols, todos
importantíssimos, ele abriu caminho para as vitórias sobre Paraguai, Bolívia e
Venezuela e consolidou o triunfo por 2 a 0 sobre o Uruguai, o primeiro da sequência recorde. Além disso, não esmoreceu na marcação sobre as defesas
adversárias, tarefa básica para um homem de frente segundo a filosofia do
técnico. Em suma, fez a torcida esquecer Humberto Suazo, que foi artilheiro do
Chile nas eliminatórias para a África do Sul 2010, mas quase não jogou sob o
comando do argentino por decisão própria.
Díaz, de 26 anos, despontou para o
futebol como jogador da badalada Universidad de Chile de 2011. Atuou como
lateral até Sampaoli reposicioná-lo no centro para dar mais equilíbrio a um
time extremamente ofensivo, que acabaria conquistando a Copa Sul-Americana
naquele ano. Não foi à África do Sul e participou do ciclo Borghi, mas foi com
Sampaoli que ele se transformou na principal referência da Roja no meio de
campo.
A
fé no estilo
"Na reta final, a seleção
encontrou um estilo que a tornou superior a todos os adversários enfrentados, o
que deu segurança aos jogadores", explicou Sampaoli após a classificação.
"Juntos, descobrimos uma maneira de jogar que nos permitiu enfrentar
qualquer equipe de igual para igual e lutar até o fim como se estivéssemos
disputando a última partidas das nossas vidas."
A fé nessa filosofia e o firme desejo
do elenco em buscar a classificação se traduziram em números espetaculares:
cinco vitórias nos últimos sete jogos. Apesar da voracidade ofensiva, a seleção
de Sampaoli curiosamente marcou apenas um gol a mais do que a de Borghi, mas
sofreu 14 a menos, três deles no único empate da campanha, quando enfrentou a
Colômbia como visitante e teve um jogador expulso.
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