domingo, 27 de outubro de 2013

Jorge Sampaoli e as chaves do sucesso chileno

Por FIFA
O fera!
FOTO: GettyImages
Depois de algumas dificuldades iniciais, o Chile garantiu sua classificação para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 na última rodada das eliminatórias sul-americanas. O futebol de alto nível, somado à sequência de bons resultados em 2013, deixou os torcedores esperançosos de ver a Roja quem sabe repetir a histórica campanha de 1962, quando o país sediou a competição e terminou em terceiro lugar. A seguir, o FIFA.com analisa os cinco aspectos fundamentais que permitiram aos chilenos confirmar presença em seu nono Mundial.

O trabalho de Sampaoli
Em dezembro de 2012, dez rodadas das eliminatórias sul-americanas já tinham sido disputadas e o Chile estava fora da zona de classificação, em sexto lugar pela diferença no saldo de gols em relação à Venezuela. A seleção então treinada por Claudio Borghi não tinha padrão de jogo e pecava pela irregularidade: havia vencido quatro jogos e perdido seis. Foi então que os dirigentes resolveram apostar em Jorge Sampaoli, discípulo da maior referência do torcedor chileno, Marcelo Bielsa, que havia classificado a Roja para a África do Sul 2010.

Comandante Sampaoli
Argentino como El Loco, o técnico de 53 anos, vencedor de quatro campeonatos nacionais e um internacional com a Universidad de Chile, chegou impondo sua filosofia de jogo: aproveitamento dos laterais, marcação por pressão desde o ataque e dinamismo constante. Conversou com os principais nomes da seleção, buscou tranquilidade e comprometimento junto aos jogadores mais criticados na época e convenceu seus comandados a retomarem as raízes do sucesso que levou o Chile a terminar em segundo lugar nas eliminatórias anteriores.

Sampaoli perdeu na estreia diante do Peru fora de casa, a quarta derrota seguida dos chilenos na competição, mas a partir de então sua seleção não parou mais de evoluir, tanto em campo como na tabela. Após a partida em Lima, o Chile registrou a maior série de vitórias de sua história no torneio classificatório. Foram quatro triunfos consecutivos, três deles como anfitrião. Nem na era Bielsa o país havia protagonizado uma sequência tão positiva.

O amadurecimento da geração dourada
Depois da brilhante classificação para a África do Sul 2010, esperava-se muito da nova e promissora geração de jogadores chilenos, formada por Claudio Bravo, Arturo Vidal, Mauricio Isla, Alexis Sánchez, Gary Medel, Gonzalo Jara, Carlos Carmona, entre outros. Todos eles tinham juventude e talento suficiente para continuar crescendo e alçar o país à condição de potência continental.

Quando as eliminatórias começaram, porém, vários deles atuaram muito abaixo das expectativas e alguns estavam até mais envolvidos em polêmicas do que com os verdadeiros objetivos da seleção. Coube a Sampaoli domesticar temperamentos e construir um espírito de união.

"O futebol pode lhe proporcionar muita coisa, mas nem todos conseguem lidar bem com isso", disse Vidal em entrevista ao FIFA.com em 2012. "Você tem que amadurecer como pessoa e, dependendo da função que exerce, às vezes é obrigado a dar o exemplo. Não é uma tarefa fácil, porque às vezes se exigem certas coisas que só são adquiridas com o tempo." O tempo passou e os principais nomes da seleção, que em muitos casos haviam conquistado a terceira colocação na Copa do Mundo Sub-20 da FIFA Canadá 2007, encontraram o equilíbrio dentro e fora de campo para melhor explorarem todo o seu talento.

A volta por cima dos astros
Do amadurecimento, veio o sucesso. Graças ao crescimento dos jogadores em seus respectivos clubes e ao trabalho da comissão técnica, a seleção chilena pôde tirar máximo proveito dos seus astros nos momentos decisivos. Os números de Arturo Vidal e Alexis Sánchez ilustram bem essa evolução. Enquanto o primeiro marcou quatro gols nos últimos cinco jogos, o segundo fez quatro nas quatro partidas finais.

Flutuando entre esse ponto e o anterior, está o retorno de Jorge Valdivia, o maestro do meio de campo, após quase dois anos de suspensão. O camisa 10 acrescentou inteligência e passes em profundidade a uma seleção vertical por excelência.

Duas cartas na manga
Quando o comando de uma equipe sofre mudanças, jogadores de confiança do novo treinador acabam naturalmente adquirindo certo protagonismo. Na seleção do Chile, foi exatamente o que aconteceu com Eduardo Vargas e Marcelo Díaz.

El Mago Valdívia, o craque
FOTO: Reuters
Sampaoli impulsionou a carreira de Vargas durante sua passagem pela Universidad de Chile ao deslocar o meia para atuar como segundo atacante pela direita. Na seleção, a mão do argentino foi decisiva para fazer de Vargas o artilheiro da Roja nas eliminatórias.

O jogador de 23 anos teve um 2013 extraordinário com o uniforme nacional. Autor de quatro gols, todos importantíssimos, ele abriu caminho para as vitórias sobre Paraguai, Bolívia e Venezuela e consolidou o triunfo por 2 a 0 sobre o Uruguai, o primeiro da sequência recorde. Além disso, não esmoreceu na marcação sobre as defesas adversárias, tarefa básica para um homem de frente segundo a filosofia do técnico. Em suma, fez a torcida esquecer Humberto Suazo, que foi artilheiro do Chile nas eliminatórias para a África do Sul 2010, mas quase não jogou sob o comando do argentino por decisão própria.

Díaz, de 26 anos, despontou para o futebol como jogador da badalada Universidad de Chile de 2011. Atuou como lateral até Sampaoli reposicioná-lo no centro para dar mais equilíbrio a um time extremamente ofensivo, que acabaria conquistando a Copa Sul-Americana naquele ano. Não foi à África do Sul e participou do ciclo Borghi, mas foi com Sampaoli que ele se transformou na principal referência da Roja no meio de campo.

A fé no estilo
"Na reta final, a seleção encontrou um estilo que a tornou superior a todos os adversários enfrentados, o que deu segurança aos jogadores", explicou Sampaoli após a classificação. "Juntos, descobrimos uma maneira de jogar que nos permitiu enfrentar qualquer equipe de igual para igual e lutar até o fim como se estivéssemos disputando a última partidas das nossas vidas."

A fé nessa filosofia e o firme desejo do elenco em buscar a classificação se traduziram em números espetaculares: cinco vitórias nos últimos sete jogos. Apesar da voracidade ofensiva, a seleção de Sampaoli curiosamente marcou apenas um gol a mais do que a de Borghi, mas sofreu 14 a menos, três deles no único empate da campanha, quando enfrentou a Colômbia como visitante e teve um jogador expulso.

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